A compulsão alimentar se tornou um tópico recorrente no BBB24 depois da modelo Yasmin Brunet relatar que enfrenta o transtorno dentro do programa. A participante demonstrou desconforto ao lidar com a doença no reality, além de ser alvo de piadas de outro participante. Especialistas alertam que a condição é séria e, se não tratada, pode desencadear em diversas outros problemas de saúde.

Em 2017, Yasmin Brunet participou de uma entrevista com a nutricionista Luna Azevedo, onde revelou que, em episódios de tristeza, enfrenta a compulsão alimentar.

 

O transtorno alimentar acompanhou Yasmin dentro do BBB24. No programa, a modelo já chegou a dizer que anda descontando o emocional e a ansiedade na comida em um episódio de compulsão alimentar.

“Eu estou completamente descompensada na alimentação. Já tive questões alimentares e estou depositando absolutamente tudo na comida, o que eu pensei que poderia ser assim, mas não achei que seria tão intenso como está sendo. É muito doido, quem tem questões alimentares vai entender isso, você se sente muito cheio e vazio ao mesmo tempo.


A participante ainda enfrenta piadas de outro participante sobre condição que enfrenta. O cantor Rodriguinho chegou a dizer que a sister vai “sair rolando” se não parar de comer tanto, referindo-se a um aumento de peso da modelo.

 

Em outro momento, o brother brinca sobre a sister ter que usar uma “mordaça” para não comer tanto.

 

A realidade de Yasmin Brunet atinge muitas outras pessoas no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 4,7% da população brasileira sofre de compulsão alimentar.

Ambientes que promovam o desequilíbrio emocional, como o BBBB, podem ser grandes gatilhos para impulsionar o transtorno alimentar, explicam especialistas.

O que é a compulsão alimentar, afinal?

“Compulsão alimentar é um transtorno psiquiátrico relacionado a perda grave do controle da ingestão de alimentos”, explica Rodrigo Martins Leite, psiquiatra professor do Instituto de Psiquiatria da USP, à CNN. “As pessoas com compulsão alimentar ingerem grandes quantidades de comida num curto período de tempo com sensação de falta de controle”, complementa.

É importante, no entanto, saber diferenciar um episódio isolado de “descontrole alimentar” com a compulsão.

“Descontar na comida ou comer sem fome está dentro do espectro da normalidade. A comida ativa circuitos de prazer e redução da ansiedade, diminuindo a sensação de estresse ou angústia, Já o transtorno, é quando os episódios de ingestão alimentar são absolutamente desproporcionais e a pessoa sente que não consegue parar ou não existe a opção de interromper a ingestão”, ressalta o psiquiatra.

Segundo Renata Farrielo, nutricionista aprimorada em transtornos alimentares, os episódios de compulsão alimentar estão associados a três ou mais dos seguintes aspectos:

  • 1. comer mais rapidamente que o normal;
  • 2. comer até se sentir desconfortavelmente cheio;
  • 3. comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome;
  • 4. comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo;
  • 5. sentir-se repugnante, deprimido ou muito culpado após comer uma grande quantidade de alimentos.

De acordo com a profissional, os episódios ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três meses.

Quem tem a compulsão alimentar?

Renata Farrielo explica que existem fatores de predisposição ao transtorno alimentar, como ser do sexo feminino, já que a maior prevalência de pressão estética pelo corpo padrão. Ter histórico familiar do transtorno também pode ser um fator.

Alguns traços de personalidade também podem interferir, como ter baixa autoestima, perfil perfeccionista e dificuldade em expressar emoções.

Além disso, há fatores precipitantes, como explica a especialista: “Iniciar uma dieta restritiva, viver conflitos familiares ou alterações na rotina, como a separação dos pais, perdas familiares e mudança de cidade também podem impactar e gerar o descontrole na alimentação”.

O psiquiatra Rodrigo Martins Leite também explica a influência do emocional para o transtorno.

“As causas ou gatilhos podem ser o estresse e emoções negativas como angústia, vazio, desesperança, raiva ou tristeza. Muitas das pessoas que apresentam o transtorno também tiveram eventos estressantes de vida, como ruptura amorosa, problemas financeiros e abuso sexual na infância”.

De acordo com ele, o ambiente do BBB24 também pode instigar o transtorno, como o que vem acontecendo com Yasmin Brunet.

“O BBB é um contexto bastante estressante, relacionado a competição exacerbada, toxicidade das relações e exposição pública. Desta forma, é o cenário perfeito para a descompensação de transtornos mentais e emocionais. Todos os gatilhos estão concentrados ali”, ressalta.

Como lidar com a compulsão alimentar?

O primeiro passo a qualquer sinal de compulsão alimentar é buscar especialistas médicos para identificar o transtorno e definir o melhor tratamento. “A equipe multidisciplinar precisa ter no mínimo um psiquiatra, um psicólogo e uma nutricionista comportamental”, aconselha Renata.

Dentro da nutrição, a abordagem comportamental é a mais indicada. “É importante focar na redução e interrupção dos episódios de compulsão, volume e frequeência, e reestabelecer um padrão alimentar mais saudável e equilibrado. Sem ir para os dois extremos”, explica a nutricionista.

Outro ponto importante do acompanhamento nutricional e psicoterápico seria a identificação e nomeação das emoções. “Por exemplo, se o paciente recorre a alimentos de conforto como comer chocolate sempre que se sente triste, frustrado ou ansioso, podemos trabalhar com ele para que desenvolva outras atividades ou respostas comportamentais a essas emoções específicas. Esse é um trabalho em conjunto da nutrição e da psicologia”, complementa a profissional.

Se a compulsão alimentar não for tratada…

“Não é uma regra, mas muitos pacientes com o transtorno de compulsão alimentar tem obesidade e sofrem as complicações médicas associadas, como síndrome metabólica, diabetes, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico (AVE) e apnéia do sono”, conclui a nutricionista.

Além das consequências físicas, também há os pontos negativos para a saúde mental.

“As pessoas com compulsão alimentar sofrem muito com problemas de relacionamento, empregabilidade e estigma social ,especialmente as mulheres que são vítimas de um padrão estético eventualmente inatingível”, finaliza o psiquiatra.

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